sexta-feira, 24 de junho de 2011

Surpresas de família


Dizem que família a gente não escolhe. É uma loteria. A gente nasce e depois vai ver onde é que se meteu. No meu caso tive a grande sorte de nascer numa família, no mínimo, muito engraçada.
Não me admira ter me tornado comediante, já que tive em casa o melhor laboratório de cenas cômicas que alguém pode imaginar. Com todo respeito aos entes já falecidos, mas até nos enterros aconteceram fatos hilários.
Na verdade nossa vida é bem comum, mas temos uma incrível capacidade de ver o lado engraçado das coisas. E aí está a diferença.
Uma grande característica da minha família é a incontrolável vontade de fazer surpresas uns aos outros. Nem sempre elas dão certo, mas o que vale é o processo. Todos se prestam a participar. Um bom exemplo foi o aniversário de 70 anos do meu pai. Reunimos a família para umas férias em Balneário Camboriu – SC. Como boa filha de militar, fiz um regulamento que foi encaminhado com antecedência para cada participante, com a programação diária e algumas instruções. Por se tratar da família Dutra, batizei o evento de “Férias Dutraquinas”. Teríamos jantar do pijama, amigo secreto, gincanas e performances. É lógico que meus pais receberam um regulamento falso, omitindo os detalhes do aniversário do meu pai. Começamos o dia com uma festa surpresa logo no café da manhã do hotel, com direito a decoração, bolo, bexigas e chapeuzinhos. O que chamava a atenção dos outros hospedes era uma enorme caixa ao lado da nossa mesa. O que teria dentro dela? Meu pai, por ter três filhas e ser o único homem da casa, sempre brinca dizendo que toda mulher é um abacaxi, mas rapidamente olha para minha mãe e completa a frase dizendo que ela é o abacaxi mais doce da sua vida. Por isso, ao abrir a caixa, lá estava ela, a minha mãe em pessoa, sorrindo e segurando um abacaxi. Foi uma gargalhada geral.
Na praia não demorou para as pessoas ao redor do nosso guarda-sol, notarem que algo de diferente estava acontecendo. Discretamente entregamos presentes para Deus e o mundo e contamos com a participação de desconhecidos, que chegavam cumprimentando o meu pai e trazendo um pacotinho. Vinha presente de todos os lados, de senhoras, crianças e jovens que toparam entrar na brincadeira. Meu pai chamava o cara da salada de fruta e este tirava um presentinho do isopor. Meu pai ia comprar milho e as vendedoras, em coro, cantavam parabéns para ele. E lá vinha outro presentinho. Sabendo da mania que me pai tem de remexer a areia com os pés, enterrei um pacotinho na frente da cadeira de praia dele. Não demorou muito e ele sentiu uma coisa espetando na areia. Opa! Outro presente desta vez “brotando” do chão!  A alegria do meu pai era a melhor parte.
Não é à toa que a nossa família é tão unida. Afinal, quem não gosta de uma boa risada! 

(escrito em novembro de 2010)

Nenhum comentário:

Postar um comentário