segunda-feira, 27 de junho de 2011

Aprendendo a me virar sozinha


            Bom, a Casinha Dig-Dig estava linda, toda fofa e colorida como sempre foi. Eu já tinha resolvido os problemas com a Gang do Mal e o Monstro Bafo do Ralo nunca mais apareceu. A Síndica Baratonga estava tranqüila na dela, sem incomodar. As baratas, treinadas por ela, desapareceram e as formigas anãs praticamente tiraram férias. Uma beleza. Observação: todas as coisas estranhas, citadas anteriormente, serão assunto para futuros textos. Por ora, só é preciso dizer que, quando se mora sozinha pela primeira vez na vida, a pessoa desenvolve alguns mecanismos de defesa contra a solidão. Nada mais justo. Portanto, voltemos às baratas, digo, ao passado.
            O que eu não tinha notado é que outros seres bem mais discretos estavam tomando conta do pedaço. Seres estes, mais conhecidos como... aranhas!!!! Era só o que me faltava!!! Logo eu que sempre tive verdadeira aracnofobia! Já protagonizei escândalos homéricos por causa de ínfimas aranhas. Sem falar que essas não eram tão minúsculas assim. Costumavam ter o tamanho e a “magreza” de um pernilongo, o que para mim era considerado enorme! O meu desespero só não foi maior, porque no Rio de Janeiro não tem Aranha Marrom (leia-se aranha-assassina, comum no Paraná, de onde eu vim). Isso amenizava o meu medo de morrer ou de perder um braço. Pois bem, estava aberta a temporada de caça. Fui decidida ao supermercado para comprar “mata-aranha”. Quem foi que disse que isso existe? Tinha mata-barata, mata-mosquito, mata-carrapato, mas mata-aranha não tinha. Olhei bem as embalagens daqueles produtos como: Raid, Rodox, Baygon, etc, e nenhum deles se referia à aranhas. Notei um certo privilégio e percebi que elas eram mais influentes do que eu poderia imaginar. Resolvi então comprar um mata-formigas-e-pulgas. Não sei que relação eu fiz para escolher este, mas achei que, sei lá, tirando as pernas ficava tudo meio parecido.
            Cheguei em casa e fui ler a latinha. O produto vinha em pó, e tinha a seguinte recomendação: “CUIDADO! PERIGOSO!” Em letras garrafais e com exclamação! Também dizia: “proteger os olhos durante a aplicação”. Eu sou meio apavorada para essas coisas e se estava pedindo cuidado era melhor não vacilar. Não tive dúvida: coloquei meus óculos de natação. Continuei lendo a latinha: “não aplicar em locais que estarão em contato com a pele”.  Olhei para os lados. Aí já era demais! O cara que escreveu isso não tinha noção do tamanho do meu apartamento. Era tão pequeno e, conseqüentemente, impossível encontrar algum lugar em que eu não encostasse. Gente, tive que rir. O que era eu, parada em pé, com a latinha na mão, de óculos de natação e olhando para os lados indecisa. Parecia um ET que se perdeu da nave. E para terminar lá dizia: “Durante a aplicação não devem permanecer no local pessoas ou animais”. Ou seja, eu, pessoa que sou, não poderia estar presente durante a aplicação. Como assim??? Resumindo, complicado demais. Guardei a latinha e decidi usar as formas tradicionais de defesa. Em nome da minha integridade física e emocional, deixei um chinelo à mão para qualquer emergência. 

(escrito em 2002)

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