Tudo
começou quando eu era pequena e presenciei a chegada do microondas lá em casa.
Na verdade, tudo terminou ali mesmo. Toda e qualquer habilidade para cozinhar
se resumiu aos botões ligar e cancelar.
Até para esquentar água para o chá,
eu usava o microondas. Já sabia os minutos exatos para a temperatura certa, sem
ter que ficar assoprando a xícara com medo de queimar a língua. Se eu não fui
capaz de fazer amizade com a chaleira, imaginem o que as panelas deveriam
pensar de mim! E, por conta disso, passamos anos nos ignorando.
Depois que vim morar sozinha no Rio,
copiei algumas receitas da minha mãe. Aliás, cabe mencionar aqui, que o livro
de receitas da minha mãe tem um quê de livro mágico. Deveria se chamar “O
Fantástico Livro de Receitas Maravilhosas da Minha Mãe”! Ali dentro se
concentram combinações perfeitas de ingredientes e temperos que resultam nas
mais deliciosas refeições! É como se fossem poções mágicas, cheias de segredos!
Sim, porque comida de mãe é o que há de mais gostoso nesse mundo. E vá
explicar! O fato é que, munida com as super receitas, fui me aventurar na
cozinha. Abri meu singelo caderninho onde copiei quatro ou cinco receitas
simples (porque eu não sou abusada) e comecei a seguir cada orientação. O que
me faltou naquela época foi o Google! Será que alguém poderia me explicar o que
significa refogar? Eu refogo, tu
refogas, ele refoga! Que verbo era esse? Fechei o caderninho, que até hoje não
ganhou nenhuma receitinha nova, e encerrei minhas atividades culinárias.
Minha história com a cozinha poderia
ter terminado aí, no parágrafo acima. Mas como tudo é possível e imprevisível
nessa vida, eis que o destino preparou uma surpresinha para mim. Recebo um
telefonema da produção do programa Mais Você, da Globo, me convidando para um
reality de culinária, só com famosos. Achei a idéia ótima e, para quem já
participou do Rally dos Famosos, do Maratoma do Faustão, De Cara no Muro, Sufoco
e outras competições malucas, cozinhar não me pareceu tão arriscado assim. Só
depois que desliguei o telefone, fui me atentar a um pequeno detalhe: eu nunca
tinha feito sequer arroz na minha vida!!! Passada a crise de riso nervoso,
combinei com as amigas uma operação de guerra em busca do alho perdido! Minha
rotina diária passou a ser: acordar, ir ao mercado, comprar os ingredientes e
acampar cada dia na cozinha de uma amiga. Cheguei a comprar potinhos especiais
para carregar ovos. Onde eu vou usar isso depois eu não sei, a não ser que eu
os leve para passear antes do omelete!
Além das minhas amigas e da minha
mãe, que acompanhou tudo pelo telefone e mandou por e mail várias de suas
formidáveis receitas, também tive a ajuda do meu diaristo (sim, no masculino).
Ele me ensinou a fazer strogonoff e só então fui descobrir que vai conhaque na
receita! Juro que eu não sabia, tamanho o meu interesse pelo assunto. Foi
realmente um supletivo gastronômico onde, em uma semana, os meus dedicados
instrutores me ensinaram a refogar, untar, saltear, flambar e tantos outros
verbos que não faziam parte do meu vocabulário.
As gravações começaram e eu tive a
chance de aprender muita coisa interessante com grandes Chefs de verdade! Mas,
principalmente, aprendi uma receita saborosa, onde experimentei o gosto de me
reinventar e a certeza de que nunca é tarde para aprender. A arte culinária
que, praticada por mim, não prometia passar de um angu com caroço, se revelou
uma verdadeira sopa no mel! Me apaixonei pelos temperos e fui, enfim,
apresentada às panelas e à toda turma de utensílios. Comprei um livro de
receitas novinho onde guardarei meus próprios segredos. Tudo isso me fez olhar para
a minha cozinha de outra forma e, desde então, temos dividido bons momentos
juntas.
Foi assim, misturando ousadia e
superação, com algumas pitadas de curiosidade e diversão à gosto, que fui parar
no Super Chef Celebridades!
(escrito em setembro de 2012)