domingo, 20 de janeiro de 2013

Os estragos de uma festa americana

               Com tantos sites de relacionamento, namoros e amizades virtuais, eu me pergunto: será que ainda existe “festinha americana”? Quem viveu esta época, por favor, se acomode aí na cadeira e desfrute comigo deste flash back.
             Quando eu tinha meus onze, doze anos era comum alguém da turma dar uma festa na garagem de casa. Sem dúvida era o evento social preferido de oito entre dez adolescentes. A característica da festinha era cada um levar algo para o lanche. Normalmente os meninos levavam refri e as meninas salgadinho. Um aparelho de som era imprescindível, assim como muitas fitas K7, recheadas com as músicas lentas mais tocadas na rádio. Pronto, estes eram os ingredientes. Ah, e uma turma de meninos e meninas arrumadinhos e cheirosinhos. Era muito legal ver aquela galera que brincava de esconde-esconde, jogava caçador ou andava de Caloi Cross, chegar com gel no cabelo e uma roupa bem passada. Havia um certo constrangimento no início, pois os meninos tinham que tirar as meninas para dançar. O receio deles era ela recusar. O receio delas era não ser tirada. Era o famoso e temido “chá de cadeira”. Mas uma sábia criatura inventou a “dança da vassoura”, onde a gente tinha a chance de dançar com os meninos mais bonitos, mesmo que eles não nos convidassem. 
               Parece tudo tão perfeito. Mas após esta rápida explicação não posso evitar as lembranças que me vêm à mente. Como fez falta, naquela época, um blog sobre defesa e sobrevivência nas festinhas americanas. Eu que o diga. Fui campeã de micos e trapalhadas. Mas teve uma festa em especial que bati todos os recordes. Eu, que só usava rabo de cavalo no colégio, resolvi ir de cabelo solto com a intenção de arrasar na festa. Mal sabia eu a bomba relógio que eu levava na cabeça. Quando cheguei lá, o salão de festas do prédio estava escuro com a música no último volume e luzes coloridas girando. Foi a primeira vez que vi um strobo (aquela luz que pisca e dá a sensação de estarmos em câmera lenta). Me deu uma vertigem e fiquei parada no meio da pista, ainda vazia, com as mãos esticadas para frente, como quem está tendo uma crise de labirintite tentando desesperadamente se equilibrar. Cambaleando fui até a parede mais próxima, onde me encostei e ali fiquei até acostumar a vista. Para a minha decepção não tocava música lenta como de costume. Eu detestei, pois queria dançar com o menino que eu gostava, coisa que só aconteceria graças à vassoura. Eu quase levei a minha de casa logo para me garantir. Mas nesta festa nem vassoura tinha e dançar aquelas músicas agitadas estava fora de cogitação. Infelizmente não tinha youtube naquela época, pra gente assistir mil vezes o clipe até aprender os passos. Resolvi me aproximar da rodinha onde o menino estava conversando. Todos munidos com seus copos descartáveis de refrigerante e eu sem. Foi ali que descobri a utilidade de um copo quando a gente não sabe o que fazer com as mãos. Se ao menos nessa época tivesse um celular pra gente ficar mexendo. Tentando ser legal dei risada de tudo que parecia ser engraçado. Confesso que não estava prestando atenção, devido ao nervosismo. Foi aí que o pior aconteceu. Numa performance mais elaborada, me virei gargalhando de olhos fechados e dei com a cara em um extintor de incêndio. Imediatamente eu virei o motivo da risada geral e assim que eu recobrei os sentidos, saí de fininho. Tão de fininho que uma menina trombou comigo e me deu um banho de coca-cola.
             Quando minha mãe foi me buscar, passei por um espelho da portaria e só então vi a situação do meu cabelo. Eu parecia o Capitão Caverna depois do susto. Hoje dou graças ao meu bom Deus por não existir facebook ou Instagram naquela época.


(escrito em  julho de 2012)

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