domingo, 27 de maio de 2012

Sorte de Ano Novo


             Assim que a contagem regressiva chega ao zero e os fogos de artifício se exibem pelo céu, todo mundo se apressa em fazer seus pedidos de ano novo. Usar branco, pular ondas, comer uva e lentilha, tudo para trazer sorte e prosperidade no ano que se inicia. Eu faço tudo isso, mas nunca vi a sorte dar as caras tão rápido!
            O último réveillon passei num clube com a minha família, em Curitiba. Estava ótimo e após o jantar uma banda comandava o animado baile. Distribuíram acessórios e serpentinas para todo mundo entrar no clima da festa. Não me convida duas vezes, pois eu sou a primeira a me paramentar com colares, óculos e piscas. Depois do “viva” foi um tal de jogar serpentina daqui e de lá que quando eu vi minha pulseira tinha ido junto. Ah, não. Ganhei aquela pulseira da minha mãe e lembro bem de tê-la admirado naquela mesma noite assim que a coloquei no pulso. Definitivamente eu não estava nem um pouco a fim de voltar para casa sem ela. Ainda mais por um motivo tosco desse, um arremesso forçado de pulseira à distância. Sem chance. Determinada a resgatar a vítima do meu ato destrambelhado, saí andando pelo salão, balançandinho no ritmo da música, com os olhos vidrados, rastreando cada centímetro do chão, afinal, não seria tão difícil encontrar um objeto prateado num piso escuro de madeira. Foi só eu terminar este meu raciocínio que um barulho me chamou a atenção. Mal deu tempo de levantar os olhos e pude acompanhar aquele jato de papel picado tomando conta do salão inteiro. Pronto! O piso escuro de madeira não estava mais escuro e a pulseira não seria a única coisa prateada caída no chão. Minha família tentando me convencer a deixar pra lá, mas sem muito empenho, uma vez que sabem como sou teimosa. O Jean, meu marido, me olhou com cara feia e eu esquivei discretamente para dar uma última procurada. E nada. Voltei pra mesa e continuei curtindo a festa como se nada tivesse acontecido. O Jean estranhou meu conformismo muito pouco provável e chegou a perguntar se eu tinha encontrado a tal pulseira. Respondi que não e já emendei com o refrão de uma música, na maior animação. Foi quando uma menininha se aproximou da nossa mesa e me perguntou: “De que cor mesmo é a pulseira?”. O Jean me olhou incrédulo e caiu na risada: “Eu não acredito que você fez isso!” ele disse.
            Rapidamente tratei de me explicar. Não que eu tenha recrutado uma criança para me ajudar, mas eu não sou de perder oportunidades. Quando vi a menininha se arrastando pelo chão a procura de rolinhos de serpentina, não tive dúvida. Me abaixei ao lado dela e falei: “Se você achar uma pulseira prateada, é minha, tá?”.
            De repente o cantor da banda chama todas as crianças no palco, para uma brincadeira. Qual não foi a minha surpresa ao ver minha ajudante-mirim cochichando no ouvido do cantor e, em seguida, ele anunciando no microfone: “Foi perdida uma pulseira...”. Antes que ele terminasse a frase, alguém chacoalhou a pulseira no alto como quem completa a prova primeiro. E eu, vitoriosa, fui faceira resgatar meu prêmio.
            Assim comecei meu ano, já de cara com uma sorte daquelas. Mas não por ter encontrado a pulseira e sim por ter conhecido uma caçadora voraz de objetos lançados involuntariamente através da difícil arte de jogar serpentina. Algo me diz que este ano promete!


(escrito em janeiro de 2012)