Assim
que a contagem regressiva chega ao zero e os fogos de artifício se exibem pelo
céu, todo mundo se apressa em fazer seus pedidos de ano novo. Usar branco,
pular ondas, comer uva e lentilha, tudo para trazer sorte e prosperidade no ano
que se inicia. Eu faço tudo isso, mas nunca vi a sorte dar as caras tão rápido!
O último réveillon passei num clube
com a minha família, em
Curitiba. Estava ótimo e após o jantar uma banda comandava o
animado baile. Distribuíram acessórios e serpentinas para todo mundo entrar no
clima da festa. Não me convida duas vezes, pois eu sou a primeira a me
paramentar com colares, óculos e piscas. Depois do “viva” foi um tal de jogar
serpentina daqui e de lá que quando eu vi minha pulseira tinha ido junto. Ah,
não. Ganhei aquela pulseira da minha mãe e lembro bem de tê-la admirado naquela
mesma noite assim que a coloquei no pulso. Definitivamente eu não estava nem um
pouco a fim de voltar para casa sem ela. Ainda mais por um motivo tosco desse,
um arremesso forçado de pulseira à distância. Sem chance. Determinada a
resgatar a vítima do meu ato destrambelhado, saí andando pelo salão,
balançandinho no ritmo da música, com os olhos vidrados, rastreando cada centímetro
do chão, afinal, não seria tão difícil encontrar um objeto prateado num piso
escuro de madeira. Foi só eu terminar este meu raciocínio que um barulho me
chamou a atenção. Mal deu tempo de levantar os olhos e pude acompanhar aquele
jato de papel picado tomando conta do salão inteiro. Pronto! O piso escuro de
madeira não estava mais escuro e a pulseira não seria a única coisa prateada
caída no chão. Minha família tentando me convencer a deixar pra lá, mas sem
muito empenho, uma vez que sabem como sou teimosa. O Jean, meu marido, me olhou
com cara feia e eu esquivei discretamente para dar uma última procurada. E
nada. Voltei pra mesa e continuei curtindo a festa como se nada tivesse
acontecido. O Jean estranhou meu conformismo muito pouco provável e chegou a
perguntar se eu tinha encontrado a tal pulseira. Respondi que não e já emendei
com o refrão de uma música, na maior animação. Foi quando uma menininha se
aproximou da nossa mesa e me perguntou: “De que cor mesmo é a pulseira?”. O
Jean me olhou incrédulo e caiu na risada: “Eu não acredito que você fez isso!”
ele disse.
Rapidamente
tratei de me explicar. Não que eu tenha recrutado uma criança para me ajudar,
mas eu não sou de perder oportunidades. Quando vi a menininha se arrastando
pelo chão a procura de rolinhos de serpentina, não tive dúvida. Me abaixei ao
lado dela e falei: “Se você achar uma pulseira prateada, é minha, tá?”.
De repente o cantor da banda chama
todas as crianças no palco, para uma brincadeira. Qual não foi a minha surpresa
ao ver minha ajudante-mirim cochichando no ouvido do cantor e, em seguida, ele
anunciando no microfone: “Foi perdida uma pulseira...”. Antes que ele
terminasse a frase, alguém chacoalhou a pulseira no alto como quem completa a
prova primeiro. E eu, vitoriosa, fui faceira resgatar meu prêmio.
Assim comecei meu ano, já de cara
com uma sorte daquelas. Mas não por ter encontrado a pulseira e sim por ter
conhecido uma caçadora voraz de objetos lançados involuntariamente através da
difícil arte de jogar serpentina. Algo me diz que este ano promete!
(escrito em janeiro de 2012)
(escrito em janeiro de 2012)