domingo, 14 de agosto de 2011

Primeira amiga


            Sábado de manhã, mochila arrumada para passar o final de semana na casa da minha avó. Diversão desenfreada interrompida somente pela musiquinha do Fantástico, indicando que o domingo estava no fim e era hora de juntar os brinquedos. Aliás, até hoje sinto um leve friozinho na barriga ao ouvir esta música. Isso porque, na casa da minha avó, eu tinha os melhores ingredientes para que aqueles dois dias ficassem eternizados em minha memória. Minha “Vó Tite” em pessoa, sempre tentando manter a ordem e os enfeites da sala inteiros. A Léo, minha paparicadora oficial, com seus lanches e guloseimas mais do que gostosos. E Alina, minha primeira amiga, que morava no apartamento ao lado, sempre pronta para longas tardes de brincadeiras.
            Fico pensando na sorte que tive de ter conhecido a “Lina” logo nas minhas primeiras engatinhadas. Nasci 23 dias depois dela e pude crescer ao seu lado. Que menina inteligente, criativa, engraçada! Que privilégio eu tive de aprender tanta coisa com ela. Sim, quem mais colocaria Tutankamon nas histórias da Barbie? E quem encontraria Judas nas fotos antigas de família? Estes e outros personagens dos quais nunca tinha ouvido falar, eram sempre inseridos nas brincadeiras dela. Eu ficava encantada. Muitas vezes parava de brincar e ficava assistindo as histórias fantásticas que ela criava para as bonecas. Até aquela Barbie velha e sem perna ganhou status de protagonista várias vezes, sob o codinome de “Ridícula”.
            Lina fazia coleção de revistinhas da Turma da Mônica. Tinha todos os números. Era o paraíso! Eu ficava doida e não conseguia escolher qual ler primeiro. Mas era só a Lina começar alguma brincadeira, que logo as revistinhas ficavam esquecidas num canto. E as risadas? Nunca, nada, nem ninguém me fez gargalhar tanto! Nos aventurávamos pelo terraço, duelávamos em guerras de tubo de papel higiênico, fazíamos passeata pelo apartamento e visitas aos defeituosos. Nada disso é o que parece ser. Mas era por onde a nossa imaginação nos levava.
            A mãe da Loti, Gepeto e Seu Antonio. Todos eram coadjuvantes do nosso “Mundo Feliz”. Aquele mundo da mobilinha, das calcinhas da gangorrinha, da ratinha Taninha, da boneca Pretinha e da saudosa pracinha. Aquele mundo onde uma banana cortada em rodelinhas nos leva aos Contos de Fadas. Onde o baleiro de prata esconde sete belos segredos. Onde o soluço embriagado de London, London pode embalar um sonho na passarela. Coisas simples, coisas nossas, que guardamos no coração.
            Hoje moramos longe, apesar de nunca termos perdido o contato. Só não passamos mais os finais de semana juntas. Não sei qual é o seu restaurante favorito. Não sei o livro que está lendo, nem a música que gosta de ouvir. Mas tenho certeza que se eu te convidar para um miojo com molho de carne queimada, com Gingibirra e flan de morango de sobremesa, ao som de Eu sou free ou Eva, você não irá resistir! 
            Querida Alina, ou minha Lina, a nossa amizade será eternamente a primeira, em tempo cronológico e lugar no podium. 

(escrito em maio de 2011)

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