segunda-feira, 22 de agosto de 2011

A fuga dos hamsters


           Esta história aconteceu há uns oito anos atrás, quando eu já morava no Rio de Janeiro e ia passar as férias em Curitiba com a minha família. Naquela época a viagem era feita de ônibus leito e durava em torno de 13 horas. Tudo certo se eu não tivesse tido uma das minhas idéias brilhantes. Resolvi levar comigo os meus dois hamsters, afinal, eram meus bichinhos de estimação e não poderiam ficar sozinhos por muito tempo.
            Arrumei a bolsinha de viagem deles, com ração, água, brinquedos e tudo que eles iriam precisar nas férias. Não precisei levar a gaiola, pois tinha outra em Curitiba. Eles tinham uma maleta de transporte, pequena e de plástico que mais parecia um tupperware furado. Resolvi levar em caso de emergência, mas me recusei a colocar meus bichinhos ali. Era claustrofóbico só de olhar. Caprichosa que sou, arrumei uma bolsinha toda de tela para que eles respirassem à vontade e eu pudesse ficar de olho nos dois. Em casa fiz o teste e eles aprovaram a minha invenção. Se acomodaram rapidamente e ficaram horas quietinhos na nova caminha. No ônibus, escolhi uma poltrona individual. Me acomodei com eles de um jeito que ficasse confortável e me cobri com o cobertor. Estrategicamente, coloquei uma lanterninha ao lado da bolsinha de tela para monitorá-los durante a viagem. Tudo muito bem pensado e planejado.
            A viagem corria maravilhosamente bem. Meus fofinhos dormindo feito anjinhos encolhidos. Se tivesse uma musiquinha tocando nesta hora seria de ninar. Fechei os olhos e continuei cochilando com um leve sorriso nos lábios. Comecei a sonhar com carneirinhos, não, eram hamsters, pulando a cerquinha. Que lindos! Primeiro um, depois outro. Senti uma coisa passando entre as minhas costas e o banco do ônibus. Acordei num sobressalto! Levantei o cobertor e lá estava ela. A bolsinha vazia e um rombo no meio da tela. Imediatamente a trilha sonora mudou. Um som estridente e repetitivo de filme de suspense preencheu a minha imaginação. Levantei e ainda pude ver um dos hamsters tentando se enfiar pela lateral da poltrona. Eles são rápidos, os danados. Aliás, que a verdade seja dita. Hamsters, definitivamente, não são cachorrinhos meigos que adoram carinho e se apegam ao dono. Não! Eles são delinqüentes e traiçoeiros. Enquanto fingiam dormir como bebês, estavam tramando e rindo pelas minhas costas, esperando a hora de colocar o plano de fuga em ação. Roeram a tela da bolsa como animais (ok, eles eram mesmo, mas isso não impediu a minha indignação). Consegui capturar um deles, mas o outro estava solto pelo ônibus. Eram quase 7 horas da manhã, os passageiros dormiam. Me ajoelhei e fui engatinhando pelo corredor do ônibus olhando embaixo das poltronas. Os cobertores dificultavam a busca. Fiquei apavorada com a possibilidade do psicopatazinho peludo ter se alojado no tênis de algum passageiro. No auge do meu desespero, vejo dois olhos abertos me olhando. Uma passageira desconfiada com a minha movimentação me acompanhava. Rapidamente segurei uma das orelhas e continuei a procurar, como se tivesse perdido um brinco. De repente, eis que vejo o rato besta em seu livre passeio pelo chão. Mergulhei na direção dele e o agarrei. Caso encerrado. Decretei prisão perpétua e os condenei ao tepperware furado. 

(escrito em julho de 2011)


Nenhum comentário:

Postar um comentário