domingo, 14 de agosto de 2011

Herói Vencedor


            Se eu fosse descrever um herói, falaria do caçula de seis irmãos de uma família simples do Piauí. Menino sapeca, cheio de energia. Fazia de suas brincadeiras, grandes aventuras. Aos 15 anos foi morar na Casa do Estudante Pobre de Fortaleza, sustentado pelo irmão mais velho. Que chances teria este menino de se tornar um super-herói? Criativo e esperto, não poupava esforços para driblar as dificuldades da vida. Certa vez, precisava de um tratamento dentário, mas não tinha dinheiro. Foi ao consultório do dentista e viu uma velha máquina de escrever, estragada, num canto. Ofereceu consertá-la em troca do tratamento. O dentista aceitou sem ao menos desconfiar que o jovem nunca tinha visto uma máquina daquela. Determinado, desmontou e limpou todas as peças, cuidadosamente. Estudou seu funcionamento e remontou a máquina todinha. Satisfeito e com os dentes tratados, sorria orgulhoso ao contar esta história e ria ao lembrar de dois parafusos que sobraram sem função.
            Muito estudioso era movido por um grande sonho: servir o Exército. Dono de um patriotismo entusiasta ingressou na Academia Militar das Agulhas Negras. Sua foto está num grande quadro eternizada em uma das paredes da AMAN. Prova de tantos momentos ali vividos, de tanta dedicação e de um sonho realizado.
            Sim, ainda falo do mesmo menino magricela do Piauí, que por lá corria de um lado para o outro com os pés descalços e que um dia o tornariam atleta.  Competia 100 m com barreira e fez todos os esportes de que gostava. Lutou boxe, fundou um time de futebol e foi campeão de esgrima, premiado com um curso em Fontainebleau, na França.
            Apaixonado por aviação, se tornou observador aéreo e paraquedista. Fundou o primeiro Clube de Ultraleve do Paraná. E como nunca poupou suas habilidades, montou um avião Piper, sozinho, no quintal de casa. Tamanha a sua competência, o avião de fato levantou vôo para delírio dos amigos e orgulho da família!
            Ah, a família! Ele também constituiu a sua. Casou-se e teve três filhas. Dentro de sua casa, definitivamente, se consagrou herói. Sempre brincalhão, carinhoso e amigo, não demorou para conquistar o título máximo de melhor pai do mundo!
            Chegou a Tenente Coronel do Exército, se formou em Economia, foi professor universitário por 40 anos, professor de oratória e palestrante. Fez doutorado em Teologia e fundou a Igreja Evangélica Jesus de Nazaré, essencialmente assistencial, para cuidar de 60 crianças carentes de uma das áreas mais pobres de Curitiba. Um grande homem, um grande realizador, que soube usar sua liderança para fazer o bem, sem ver a quem.   
            Se eu fosse descrever um herói, falaria do meu pai: José Evane Dutra, o menino do Piauí. O herói vencedor!

(escrito em junho de 2011)

3 comentários:

  1. Que linda homenagem Dig, seu pai deve ter muito orgulho de uma filha tão carinhosa como vc...

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  2. LINDA A HISTÓRIA DO SEU PAI. UM VERDADEIRO HERÓI

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  3. Que lindo, minha querida! Parabéns pelo emocionante tributo ao seu pai! Temos muito em comum, acabei de descobrir: também tenho um pai herói, militar como o seu, sendo que o meu da Força Aérea. Com ele também aprendi a ser patriota, daquelas que choram ao ouvir o hino nacional. A vida e o caráter de nossos pais possuem traços comuns. Vamos conversar mais sobre isso. Acredita que papai também voa ultraleve? Incrível as coincidências! Beijinho no seu pai pelo dia de hoje! Que Deus o abençoe e proteja! Bjs!

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