sábado, 27 de agosto de 2011

Os Pândegos


                  Pândego significa engraçado, brincalhão, alegre. Era a tradução perfeita para definir e, então, batizar a nossa dupla de humor. Eu e Wagner Trindade nos conhecemos em 2003, em um curso de teatro. Adorávamos contracenar um com o outro, nos divertíamos em cena, tínhamos um humor parecido e uma capacidade enorme de criar. A dupla virou peça. Escrevemos os textos, criamos os personagens, produzimos tudo sozinhos e demos muita, muita risada. O resultado não poderia ser outro: hoje, nós dois somos contratados pelo Zorra Total da Globo, o principal programa humorístico da maior emissora do país. E o melhor de tudo, interpretando nossos próprios personagens dos Pândegos!
            Quem lê este primeiro parágrafo pode pensar que tudo foi fácil, rápido e que, no mínimo, tivemos muita sorte. Mas não foi bem assim. Estreamos a peça “Os Pândegos – A Comédia” em 2004 e durante os 6 anos de estrada, nunca tivemos nenhum patrocínio. Tínhamos um amor imenso pela arte, uma vontade absurda de trabalhar, um sonho sincero de vencer. E, claro, muitas contas à pagar. Temos tanta história para contar que seria impossível resumir em poucas palavras. Só para dar um exemplo: no início da primeira temporada, eu entregava para alguém da platéia duas fitas vermelhas para serem amarradas, uma em cada pulso. Fazia parte de uma piada. Em outra cena eu usava dois band-aids coloridos no joelho. Já o Wagner distribuía para a platéia balas recheadas Arcor. Mas o que era para ser cômico, ficou um tanto dramático. Numa fase de vacas magras, o que no teatro deveria ser chamado de Julieta anoréxica, tivemos que cortar radicalmente as despesas. Por isso a fita vermelha passou a ser uma só e bem menor, que, ao invés de ser no pulso era amarrada no dedinho. O band-aid único, cor-da-pele básico, era reaproveitado por vários dias, enquanto durasse a cola. E as balas? Juquinha mesmo. Nós dois ficávamos na bilheteria vendendo os ingressos, para economizar com o bilheteiro. Um amigo operava a luz e outro operava o som. A gente só conseguia pagar a passagem deles. Acumulávamos as funções de camareiros, contra-regras e produtores.
            Mas é isso aí, aos poucos o público vai conhecendo o seu trabalho, começa o boca a boca e a situação vai melhorando. Quando a gente acha que vai ser incrível, que vai lotar e ficar gente pra fora, ou quase lotar... tá bom, que seja meia casa, mas ainda assim incrível; as luzes se acendem e lá estão elas: quatro pessoas solitárias na platéia. O que fazer numa hora dessas? Fazer, ué! Então, fizemos a peça, afinal estas quatro pessoas saíram de casa para nos ver. Só não dava pra entender por que elas se recusavam a rir. Sim, você sai de casa para ver uma comédia e decide, bravamente, que nada vai te arrancar um sorriso sequer. Dava vontade de perguntar: “Por que vieram????” Foi uma tortura. Eu e Wagner nos descabelando em cena e nada surtia efeito algum. Eu estava a ponto de parar a peça e dizer: “Ok pessoal, vamos acabar com este sofrimento, não é mesmo? Vocês estão liberados!!!!”
            Hoje a gente lembra destas e de muitas outras situações com o maior carinho. E temos certeza de que cada dificuldade, assim como cada conquista, foi importante para construirmos a nossa história. 

(escrito em julho de 2011)

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