quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

O que mais importa


Justiça seja feita, mas a internet tem lá seus encantos. Estes dias ela me proporcionou um verdadeiro chá da tarde virtual com uma grande amiga das antigas. Eu e a Suli não nos vemos há anos, mas batemos um longo papo digno dos velhos tempos.
Durante nossa infância, viajávamos nas férias e nos feriados para Caiobá, litoral do Paraná. Como ela morava em Ponta Grossa e eu em Curitiba, só nos encontrávamos na praia e por isso não nos desgrudávamos o verão inteiro. Passávamos quase que o dia todo sobre rodas. Quando não estávamos de patins, andávamos de bicicleta. Às vezes, as duas coisas juntas. E não importava se as bicicletas estavam enferrujadas pela maresia, o importante era por onde elas nos levavam.
            E, como qualquer criança, queríamos viver uma grande aventura. Nunca acontecia nada de extraordinário, mas nos divertíamos muito. Várias vezes tentamos ficar acordadas com a janela do quarto aberta esperando o Sol nascer. Tagarelávamos a noite inteira e pegávamos no sono dez minutos antes do Sol surgir no horizonte. Depois de tantas tentativas frustradas, resolvemos mudar de tática. Íamos dormir cedo, na hora em que a mãe mandava, e acordávamos antes do Sol. Pegávamos as bicicletas e íamos fazer piquenique na pedra à beira mar: maçã e pão com patê. Não importava o que levávamos na mochila. Não importava nem mesmo o Sol, a pedra, o mar. O importante era a quantidade de risadas. Eu ficava deitada na pedra lendo Paulo Coelho. Acho que naquela época eu nem entendia, mas achava que combinava à beça com o nascer do Sol.
            Uma vez, aprontei alguma e meus pais me colocaram de castigo. Um dia inteiro sem sair de casa. Em plenas férias, com a liberdade pulsando lá fora, ficar fechada no apartamento era um castigo considerável. Então, eu e a Suli combinamos o seguinte plano: ela ia avisando todos os amigos que encontrava para irem lá em casa me chamar para brincar. Só o Luiz Guilherme tocou o interfone umas cinco vezes. A idéia era vencer os meus pais pelo cansaço ou pela comoção. Ver todas as crianças lá fora brincando e eu, tristinha, encolhida em um canto do sofá. Mas minha mãe sabia, desde aquela época, que eu era boa de cena, por isso só no fim da tarde fui absolvida. Sai de casa de bicicleta numa euforia alucinada, como um passarinho que acaba de ser solto e bate as asas apressado sem saber em que pedaço do imenso céu voar.
            Não importava passar as férias sempre no mesmo lugar, sem muitas opções. O importante era a certeza de que a cada ano, estaríamos juntas novamente e nos divertiríamos cada vez mais. Assim se passaram vários verões, até que nos perdemos pelo caminho.
            Hoje, tanto tempo depois, a internet nos reaproximou e, depois de uma nostálgica conversa, recheada de lembranças tão puras, percebi que uma coisa eu aprendi na infância: amizade verdadeira, isto sim, é o que mais importa.

(escrito em outubro de 2011)

Nenhum comentário:

Postar um comentário