quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Minha estreia na novela das oito


             Muita gente não sabe, mas antes de rodar as tranças como Abadia, no Zorra Total, eu fiz mais de 30 participações em novelas e programas da Rede Globo. Não posso esquecer da primeira vez que participei de uma novela das oito!            
                 É o tipo de telefonema que todo ator sonha em receber. Um belo dia o meu telefone tocou e era a produtora da novela “Senhora do Destino” me convidando para uma participação. Ela perguntou: “Você pode?”, eu segurei o grito histérico e respondi: “Tá, tudo bem.” Então ela me perguntou se eu estava fazendo alguma peça de teatro. Pensei: “Opa! Deve ser uma participação grande!”. Falei as datas da minha peça e ela falou que não haveria problema. Ufa!!!! Ela se despediu dizendo que o moto-boy levaria o texto na minha casa. Eu morava sozinha no Rio de Janeiro e me deu vontade de tocar a campainha da vizinha e pular no pescoço dela de tanta alegria. Mas canalizei minha euforia em um telefonema para Curitiba, onde contei aos berros para minha mãe.
            Quando o moto-boy entregou o envelopão da Globo com meu nome , até o meu porteiro me olhou diferente. Eu achei tão legal que não queria nem abrir. Queria guardar, daquele jeito. Mas aí a curiosidade foi mais forte e ataquei o envelope para ver minhas cenas. Na primeira página dizia: Dig Dutra - atendente da sorveteria. Unf! Odeio quando o personagem não tem nome. Tipo assim: Mulher 1, aeromoça, guia de museu, atendente da sorveteria... Que coisa! Custa dar um nomezinho pra coitada? Então peguei o texto. Era o cápítulo 123 inteiro. Um calhamaço, fiquei horas folhando até achar meu personagem. Lá estava: ATENDENTE – Já sei que é o de sempre: suco de abacaxi com hortelã. Não, peraí... como assim? Só isso? Folhei, olhando quase que letra por letra para ver se eu achava mais alguma palavrinha destinada a minha pessoa. Nada. Era só aquilo mesmo. Agora me digam... era necessário mandar um moto-boy atravessar o Rio de Janeiro para me levar uma frase? Poderiam me passar por telefone! Tudo bem, era importante eu receber o capítulo todo para saber onde eu me encaixava na história. Mas vamos combinar que, com apenas uma frase, eu não ia interferir em nada no desenrolar da carruagem. A não ser que eu criasse a minha própria trama. Se eu olhasse para a Jennifer (Bárbara Borges – era com ela que eu contracenava) e falasse “suco de abacaxi” com ironia, as pessoas iam pensar que nunca foi suco de abacaxi. E o que será que foi? Causaria discussões nas rodas de amigos. Ou se eu falasse num tom de mistério “com... hortelã”, as pessoas podiam pensar que ela tinha algum segredo comigo. Que hortelã era um código. E se eu falasse maliciosa “o de sempre”, pronto! Peguei o público. Polêmica. Aí o autor ia ser obrigado a continuar escrevendo para o meu personagem, que com certeza deixaria de ser “atendente da sorveteria” para se tornar “Gilda”. Não sei porque acho que esse era o nome dela. Meio misterioso, não se sabe se é vilã ou mocinha.
            A verdade é que ainda não era o momento de externar toda a minha dramaticidade numa novela das oito. Deixei todos os subtextos de lado e fiz, pura e simplesmente, uma atendente de sorveteria. E foi assim a minha inesquecível estreia. Alguns segundos apenas... mas segundos nobres!

4 comentários:

  1. rsrsrs bem legal o texto. bj, Raul Franco

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  2. Você ainda vai ter sua personagem com nome e sobrenome em horário nobre Dig...
    Além de ser uma pessoa linda também é super talentosa...merece todo sucesso

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  3. Que delícia ler esse texto, parece que o tempo não passou. É bom sentir que vc mudou para continuar a mesma. Bjsss saudososss

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